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Aprenda fazer um cordel

Noções de métrica e de rima
Por Izaias Gomes de Assis


O que é cordel?

É um texto poético escrito com métrica e com rimas soantes (perfeitas). Sua contagem de sílabas tem forte influência na oralidade, pois é feito para ser cantado ou declamado.

O que é um verso?

É cada uma das linhas constitutivas de um poema. (o mesmo que pé).
Versos brancos: versos não rimados; versos soltos;
Verso de seis pés: sextilhas;
Verso de pé quebrado: verso errado ou malfeito que tem sílabas a menos.

O que é estrofe?

É um grupo de versos que apresentam, comumente, sentido completo, o mesmo que estância. Três tipos de estrofes são usadas no cordel brasileiro: sextilha, setilha e décima. A quadra caiu em desuso, mas ainda se vê, principalmente em poesias feitas por crianças ou para elas. Veja os exemplos abaixo:
Quadra (estrofes de quatro versos de sete sílabas)

O sabonete cheiroso,
Bonitinho e perfumado;
Ele ouviu alguns rumores
Que o deixou encabulado.
(A briga do sabão com o sabonete, Izaías Gomes de Assis)

Sextilhas (estrofes de seis versos de sete sílabas)

A sujeira aqui em baixo
Já está fazendo mal
E o Homem achando pouco
Lá no Espaço Sideral
Contamina nossa órbita
Com o lixo espacial.
(A Terra pede socorro, Izaías Gomes de Assis)

Setilhas (estrofes de sete versos de sete sílabas)


No Skype, no WhatsApp
Osama era “logado”
Por essa gata Sinete
Ficou Bin apaixonado
Enfeitiçado num truque
O cabra no facebook
Vivia conectado.
(Férias que Bin Laden passou em Natal, Izaías Gomes de Assis)

Décimas

Se eu morrer neste lugar
Cessando aqui minha lida
No outro lado da vida
Do sertão hei de lembrar
E se Deus me castigar
Será branda a punição
Pois ele dirá então:
- Pior castigo foi ser
Um sertanejo e viver
Distante do seu sertão.
(Saudades do meu sertão, Izaías Gomes de Assis)

O que é métrica?

Arte que ensina os elementos necessários à feitura de versos medidos.
Sistema de versificação particular a um poeta: (Dicionário Aurélio)
Uma sílaba poética é diferente de uma sílaba comum. É possível unir duas ou mais sílabas ou fonemas em apenas uma sílaba poética. Veja o verso abaixo:
A sujeira aqui em baixo
Observe que essa estrofe tem nove sílabas comuns, mas poeticamente tem sete sílabas metrificadas.
1 2 3 4 5 6 7
A su jei raa qui em bai xo

A sílaba poética é pronunciada como ouvimos os versos, por isso a sonoridade é importante num verso metrificado (a essa contração dá-se o nome de crase ou elisão) e só se conta as sílabas até a sílaba tônica da última palavra.

Veja outro exemplo:
Em pleno século vinte,
O colossal transatlântico
Partindo lá da_Inglaterra
E_atravessando o Atlântico,
Chega à_América em cem horas.
Feito digno de cântico.
(Manuel Azevedo, A tragédia do Nyengurg)

As sílabas em negrito são as sílabas tônicas das últimas palavras, onde termina a contagem das sílabas métricas, e as sílabas sublinhadas são as que se contraem formando uma única sílaba.
Observa-se que três vocais se contraindo no quinto verso e no sexto verso a consoante “g” na palavra digno forma uma sílaba.
No cordel usa-se os versos setissílabos (redondilhas maiores). Os versos de dez sílabas (decassílabos) e os de cinco sílabas (redondilhas menores) não são peculiares dessa modalidade, apesar de serem bastantes usadas nas cantorias e nos repentes nordestinos. Outro ex.:

Vou narrar uma história
De_um pavão misterioso
Que levantou vôo da Grécia
Com um rapaz corajoso
Raptando_uma condessa
Filha de_um conde_orgulhoso.
(Romance do Pavão Misterioso.)

Regra básica de metrificação

Vogais átonas se atraem obrigatoriamente. Ex: Cessando aqui minha.
Vogais tônicas jamais são contraídas. Ex: Zezé entre no seu quarto.
Vogal tônica mais uma átono é opcional a elisão. Ex: Osama era logado (não houve a elisão); Ele era meio maluco (houve uma elisão).
O cordel, apesar de ser escrito, sua métrica sofre vícios da oralidade, pois muitas palavras monossílabas átonas são entoadas como se fossem tônicas e assim separam-se as sílabas poéticas no verso. Ex: O amor é muito lindo.

O que é rima?

Identidade de som na terminação de duas ou mais palavras. Palavra que rima com outra.

Rimas ricas

Rimas entre palavras das quais existem poucas, ou raríssimas, (chamadas também de rimas difíceis) com a mesma terminação, como novembro e dezembro; túmido e úmido, ou, segundo critério acadêmico: entre palavras de classes gramaticais distintas, como santo (adjetivo) e enquanto (conjunção), minha (pronome) e caminha(verbo).

Rimas pobres

Rimas entre palavras de que se encontra superabundância com a mesma terminação, (chamadas também de rimas fáceis) como agonia e sombria; caminhão e pão ou entre palavras antônimas, como fiel e infiel, simpático e antipático, ou, ainda, segundo critério preferível, entre vocábulos da mesma classe gramatical, como chorasse (verbo) e cantasse (verbo); meu (pronome) e seu (pronome).

Rimas toantes

Aquelas em que só há identidade de sons nas vogais, a começar das vogais tônicas até a última letra ou fonema, ou algumas vezes, só nas vogais tônicas, ex.: fuso e veludo; cálida e lágrima. (essa forma não é aceita na cantoria nem no cordel).

Rimas consoantes

As que se conformam inteiramente no som desde a vogal tônica até a última letra ou fonema. Ex.: fecundo e mundo; amigo e contigo; doce e fosse; pálido e válido; moita e afoita. (essa é a forma adotada nas cantorias e no cordel por ser uma rima perfeita).
Palavras com grafia diferente, mas com fonemas (sons) iguais são consideradas rimas perfeitas, ex.: chorasse e face; princesa e riqueza; peça e pressa; amá-lo e cavalo, vê-la e estrela; PT e dendê.
Temos que ter maior cuidado com palavras estrangeiras, porém podem ser usadas, ex.: discute e orkut; batuque e notebook; bauex e você; Internet e chevete, gay e rei. (Existe uma linha de poetas contemporâneos que não utilizam a rima com grafia diferente).
Rimas aparentes (em nenhuma hipótese se usa no cordel)
São palavras que enganam pelas suas sonoridades parecem que rimam com outras, porém não rimam, ex.: Ceará e cantar; café e chofer; doutor e cantou; desistir e aqui; preferido e amigo; esperto e concreto, pensamento e centro; menina e clima; métrica e genérica; pensamento e tempo vazio e sumiu; cururu e azul.
Há divergências entre os cordelistas sobre alguns tipos de palavras que se pode rimar ou não com outras; exemplos: namoro com estouro; rapaz com mais; bombons com aviões; desespero com vaqueiro; lima com ímã.
Existem palavras que praticamente não têm rimas para elas, ex.: pizza, tempo, cinza, doido, bíblia e lâmpada.
Devido um fato histórico-linguístico não se rima palavras terminadas em “l” com terminadas em “u”, ex.: Brasil com viu; carnaval com bacurau; cordel com chapéu. Então essas rimas não se usam na cantoria nem no cordel, apesar de serem empregadas nas emboladas e nos aboios.
CUIDADO: Não se rima plural com singular.

Boas rimas